terça-feira, 6 de novembro de 2012
[Entrevista] Angêla Sastre: "podemos nos comunicar, saber o que está acontecendo e depois nos ajudarmos"
Em que contexto social e geográfico estão inseridas as iniciativas de rádio promovidas nas zonas de conflito na Colômbia?
A Colômbia tem muitas regiões em conflito armado, como a Serra da Macarena. Lá é onde mais se produzia coca, desafortunando a gente que vivia ali, mas era um negócio muito lucrativo. As crianças [que trabalhavam raspando coca] usavam pulseiras, cordões de ouro e tinham muito dinheiro, mais do que seus pais. Elas chegaram a pensar que poderiam fazer o que quisessem, ter um uniforme, um fuzil. Não tinha autoridade, nem dos pais nem dos avós.
É neste cenário que aparece o rádio. Rádios em postes, com alto-falantes, mas existiam equipes de produção que contemplavam o que acontecia na comunidade. São regiões em condições que você nem imagina e a rádio ajudava a servi-los. O medo dos guerrilheiros existe, quase todos os dias havia um velório, era normal. Quando chega a rádio, as pessoas começam a falar o que necessitam, e necessitam de assistência médica, de um lugar para abastecer o mercado, de condições dignas. Mesmo assim, muita gente ainda não queria produzir por medo.
Qual seria o papel da rádio nas comunidades da Serra da Macarena e do Morro de Maria?
Demonstrar a realidade e, um pouco, também para pensar que podemos nos comunicar, saber o que está acontecendo e depois nos ajudarmos. E, também, contar o que acontece e do que necessitamos.
Quais os benefícios para os jovens quando participam do processo de produção da rádio?
O uso das tecnologias, manejar computadores, investigar sons, lhes fascina. À música, lhes encanta investigar. São benefícios que eles gostam de aprender aqui, porque eles têm que pesquisar músicas e efeitos sonoros. É um processo completo e muito divertido (risos).
Além disso, é um trabalho que tem muita personificação dramática, pois são crianças que podem ser recrutadas pelos grupos armados, então nós tínhamos que contar as histórias de como eles são recrutados e não sabíamos como fazer, porque as crianças são muito pequenas, têm seis, sete ou oito anos. Daí, dramatizamos as histórias para deixar mais divertido.
Qual o papel social da rádio educativa nas comunidades para inserir o jovem como produtor de comunicação? E qual a importância disso na construção de jovens conscientes da sua cidadania?
Penso que o tripé “pesquisa, comunicação e educação” é muito importante, porque estimula o pensamento crítico, analisa a sociedade, pergunta a si mesmo e aos demais. Em Bogotá que, como em Fortaleza, têm favelas, existem redes de rádio nos colégios, de informação permanente, inteligência crítica, audiência crítica. Algumas empresas financiam projetos [de rádio] feitos por alunos, e isso é muito bom. Eles ficam animados e encantados.
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