quinta-feira, 8 de novembro de 2012

“As crianças querem falar"


O terceiro e último relato de experiências do Seminário, um dos espaços da manhã desta quinta-feira, abordou a relação entre infância, adolescência e rádio na Amazônia Peruana. Oraldo Reátegui Segura, membro da ONG Fundación Instituto de Promoción Social Amazónica e diretor da rádio La Voz de La Selva, trouxe aos participantes a experiência de um programa de rádio produzido por crianças e adolescentes da região. “As crianças querem falar", ressaltou.

A Amazônia Peruana, mesmo sendo culturalmente rica, ainda enfrenta baixos índices de educação escolar. “Nesse contexto, desenvolvemos experiências que têm muito de intuição, de inspiração, e pouco de recursos”, contou Oraldo. Foi assim que surgiu a proposta de um programa feito por crianças e adolescentes. “As crianças não deveriam estar só escutando histórias, mas também contando histórias”, pensava.

Veio, então, a idéia de promover uma oficina sobre crianças e meios de comunicação. “Descobrimos que, entre os meios que as crianças consumiam, o rádio estava em último lugar. Ninguém escutava rádio”, lembra o diretor da La Voz de La Selva. Ao fim da oficina, no entanto, eles estavam certos de que era com rádio que queriam trabalhar.

O programa já tem um ano e meio e, atualmente, 10 crianças e adolescentes de 10 a 16 anos trabalham conduzindo e dirigindo o processo de produção em conjunto com a emissora. “Eles fazem entrevistas, falam pelo telefone, fazem campanhas sobre o bullying, por exemplo”, explica Oraldo. “Eles se transformaram em interlocutores, se consideravam verdadeiros jornalistas”, acrescenta.

Para Oraldo, o projeto tem colaborado na construção de uma nova relação entre adultos e crianças. “Pensávamos em uma sociedade adultocêntrica, em que as crianças são o futuro, o presente não, então não interessam”, pontua ele, observando que, em contraponto a isso, a audiência adulta hoje é uma realidade, pois “muitos adultos ligam, participam por telefone. E não é uma participação em que eles reclamam ou elogiam. Eles dão sua opinião e as crianças discutem essa opinião”.

O diretor da rádio La Voz de La Selva conclui seu relato constatando, ainda, que as crianças e os adolescentes têm se utilizado do programa em busca da garantia dos seus direitos. “Cada vez mais ele sentem que podem mais e melhor participar das políticas públicas, dos parlamentos juvenis, da educação e ir em busca dos seus direitos”. Quanto aos valores morais que a experiência proporciona, Oraldo aponta que “a solidariedade e a participação cidadã são o principal”.

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